SANTOS et al. Alcohol and Alcoholism, 2015.
CARLINI et al. Drug and Alcohol Review, 2014.
SANCHEZ et al. Journal of Addictive Diseases, 2013.
SANCHEZ et al. Clinics, 2013.
Avaliação de Programas de Prevenção Governamentais
Do Unplugged ao #Tamojunto
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2013
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O Programa Unplugged (ainda em sua versão apenas traduzida para o português) foi submetido a uma primeira avaliação em um estudo de eficácia (não randomizado) que identificou um potencial efeito do programa em reduzir o uso recente de maconha e o consumo excessivo de álcool (binge drinking) por adolescentes (Sanchez et al., 2016).
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Em paralelo também foi realizada uma avaliação do processo de implementação do programa que identificou viabilidade para sua aplicação nas escolas públicas brasileiras (Medeiros et al., 2016).
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2014/2015
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Após uma adaptação cultural realizada pela equipe do Ministério da Saúde foram feitas importantes mudanças de conteúdo nas aulas do programa que passou a ser chamado de #Tamojunto. O #Tamojunto culturalmente adaptado foi submetido a uma nova avaliação para verificar a sua efetividade através de um grande ensaio controlado randomizado (ECR) realizado em 6 cidades brasileiras. Nesse estudo foi verificado um efeito iatrogênico do programa, já que os adolescentes do grupo de intervenção tiveram um risco 30% maior aos 9 meses (Sanchez et al., 2017) e 13% maior aos 21 meses (Sanchez et al., 2018) para iniciarem o consumo de bebidas alcoólica em comparação com os do grupo controle.
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A pedido do Ministério da Saúde também foi avaliado o efeito do programa no bullying. Os resultados mostraram que o programa reduziu a probabilidade dos adolescentes do grupo intervenção de serem vítimas de bullying, particularmente as meninas de 13 a 15 anos no período de acompanhamento de 9 meses, no entando esse efeito não foi sustentado após 21 meses de acompanhamento (Gusmões et al., 2018).
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Esses resultados inesperados foram atribuídos a adaptações culturais de componentes centrais do programa, já que foram retiradas mensagens relacionadas ao não uso de álcool por adolescentes e substituídos por uma perspectiva ligada a redução de danos.
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2019
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Baseado nestes resultados negativos, foi desenvolvida uma nova versão do programa (alterando esses elementos responsáveis pelo potencial efeito iatrogênico) chamada de #Tamojunto 2.0. Em 2019, novo ECR foi conduzido e os resultados mostraram o programa #Tamojunto2.0 é capaz de reduzir as chances de os alunos do 8º ano iniciarem o uso de álcool em 22%, revertendo o resultado iatrogênico identificado no estudo anterior (Sanchez et al., 2021).
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Os resultados sugerem que o programa #Tamojunto2.0 é eficaz em retardar o consumo de álcool por meio do aumento de crenças negativas e não positivas sobre o álcool (Garcia-Cerde et al., 2023).
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O programa também mostrou ter efeito positivo na diminuição do bullying (tanto a vitimização quanto a prática), sendo esse efeito mediado pela diminuição no uso de álcool (Valente et al., 2023).
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Em paralelo foi conduzida uma avaliação do processo de implementação do programa que apresentadou aspectos que facilitam e dificultam a implementação do programa. Este estudo identificou que o baixa fidelidade na implementação, boa qualidade na aplicação do programa e alto absenteísmo dos alunos (Melo et al., 2022)
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Do Good Behavior Game ao Elos
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2014/2016
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Após passar por uma adaptação cultural o programa americano Good Behavior Game, renomeado Elos no Brasil, foi submetido a uma avaliação de eficácia através de ensaio não randomizado. Os resultados mostraram evidência de redução da agressividade entre meninos com idade média de 8 anos (Schneider et al., 2022).
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Schneider, D. R., Garcia, D., D’Tolis, P. O. A. O., Ribeiro, A. M., Cruz, J. I. da, & Sanchez, Z. M. (2022). Elos Program’s Efficacy Evaluation in School Management of Child Behavior: A Non-Randomized Controlled Trial. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 38. https://doi.org/10.1590/0102.3772e38315.en
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2019
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Após passar por mais uma revisão o programa passou a ser chamado Elos 2.0 e foi submetido a uma avaliação de efetividade através de um ensaio controlado randomizado (Mariano et al., 2022). Os resultados apostam para efeitos positivos do programa em três medidas de saúde mental: melhora na concentração, redução de comportamento disruptivo e aumento de comportamento pro-social. A redução destes comportamentos na infância é preditora importante de menor consumo de drogas na adolescência.
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Mariano, M., da Silva, A. R., Lima, J. L. S., de Pinho, N. T., Cogo-Moreira, H., Melo, M. H. S., Mari, J. J., Sanchez, Z. M., & Caetano, S. C. (2021). Effectiveness of the Elos 2.0 prevention programme for the reduction of problem behaviours and promotion of social skills in schoolchildren: study protocol for a cluster-randomized controlled trial. Trials, 22(1), 468. https://doi.org/10.1186/s13063-021-05408-0
Caetano, S.C., Mariano, M., da Silva, A.R. et al. Effectiveness of the Elos 2.0 Program, a Classroom Good Behavior Game Version in Brazil. Int J Ment Health Addiction (2024). https://doi.org/10.1007/s11469-024-01256-6
Do Strengthening Families Program ao Familias Fortes
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2014/2015
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Strengthening Families Program (SFP 10-14) inicialmente foi submetido a uma avaliação de necessidades para identificar adequação cultural do programa para as famílias brasileiras. Os resultados mostraram que o programa foi percebido como suficientemente atraente, culturalmente relevante e parcialmente claro pela população brasileira, sendo feitas recomendações para adaptação cultural e melhoria da qualidade da implementação (Murta et al., 2018). Além disso, também foi avaliada a validade social do programa junto a população brasileira e percepção das famílias sobre os efeitos do programa. Os resultados mostraram que os objetivos do programa são considerados socialmente relevantes e que houve percepção de impacto positivo na coesão familiar, no estilo parental autoritativo e nas habilidades de vida do adolescente (Murta et al., 2020).
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Foi realizado um estudo quasi-experimental (sem grupo controle) para avaliar o efeito do programa e os resultados mostraram efeitos mistos do programa: evidenciando potencial de aumentar a autoeficácia dos jovens para a leitura mas também as faltas escolares (sem permissão dos pais) (Murta et al., 2021).
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2021-2024
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Um novo estudo, realizado por meio de um ensaio controlado randomizado, avaliou a efetividade do programa Famílias Fortes (FF) em Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e Núcleos de Assistência de 13 municípios brasileiros. No total, 805 famílias (duplas de adolescentes e cuidadores) participaram do estudo, sendo distribuídas entre o grupo intervenção e o grupo controle.
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Os resultados de curto prazo (6 meses de acompanhamento) indicaram que o programa reduziu em 60% a chance de pais e responsáveis serem classificados como negligentes, aumentou o uso de disciplina não violenta por cuidadores e diminuiu em 80% a probabilidade de adultos exporem adolescentes aos seus episódios de embriaguez. (Sanchez et al., 2024).
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Esses efeitos foram mantidos em avaliações de acompanhamento aos 12 e 24 meses (estudo submetido para publicação). Além disso, o programa mostrou impacto positivo de longo prazo na redução do consumo excessivo de álcool pelos pais, bem como um aumento na capacidade dos pais de definirem regras claras sobre o uso de drogas por seus filhos e uma melhora nas habilidades dos adolescentes para resolver conflitos familiares e para gerenciar o estresse.
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Em nenhum dos seguimentos foram observados efeitos diretos significativos do programa nos desfechos relacionados ao uso de drogas por adolescentes.
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No entanto, análises de mediação revelaram que as mudanças nas práticas parentais combinadas (práticas disciplinares não violentas, estilos parentais e exposição à embriaguez parental) reduziram o consumo de álcool na vida dos adolescentes em 11% e o binge drinking na vida em 25%. As dimensões do estilo parental, especificamente a capacidade de responsividade e exigência, mediaram o efeito do programa na redução do uso de cigarros (4%) e do uso de inalantes (3%) ao longo da vida entre os adolescentes, independentemente dos outros comportamentos parentais.
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Em paralelo, foi conduzido um estudo para avaliar o processo de implementação do programa FF, cujo objetivo foi identificar a fidelidade, viabilidade, aceitabilidade, além de possíveis obstáculos e facilitadores na execução do programa (Santos, 2023). Entre as potencialidades observadas, o público-alvo do SFP 10-14 relatou uma redução no estresse parental e um fortalecimento do diálogo familiar. Gestores e adolescentes destacaram a importância das atividades lúdicas, sendo que os primeiros elogiaram a qualidade do material do programa, enquanto os adolescentes apreciaram a oportunidade de levar o material para casa. Por outro lado, barreiras à implementação incluíram infraestrutura precária, dificuldades no recrutamento das famílias e problemas de leitura e compreensão das atividades do programa, devido ao baixo nível de letramento de alguns cuidadores.
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Para informações sobre os resultados preliminares clique aqui .
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Sanchez, Zila M., et al. “Short-Term Effects of the Strengthening Families Program (SFP 10–14) in Brazil: A Cluster Randomized Controlled Trial”. Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health, vol. 18, no 1, junho de 2024, p. 64. DOI.org (Crossref), https://doi.org/10.1186/s13034-024-00748-6.
PROERD - Caindo na Real (keepin' it REAL)
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2019
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O Proerd (Programa de Resistência às Drogas e Violência) foi submetido a primeira avaliação de efetividade através de ensaio controlado randomizado para verificar o efeito do atual currículo “Caindo na Real” (uma tradução do programa americado keepin' it REAL) na prevenção ao uso de drogas e violêncio. Foram realizados dois ensaios controlados randomizados para avaliar o efeito dos currículos do 5º e 7º anos do Proerd entre 4.030 estudantes, em 30 escolas estaduais da cidade de São Paulo. Os resultados mostraram que o Proerd apresentou efeito neutro/nulo nos dois currículos avaliados (5º e 7º anos) para prevenção do uso de álcool e outras drogas (Sanchez et al., 2021; Valente & Zila, 2022 ) e para o bullying (Ferreira-Junior et al., 2022).
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Em relação ao efeito do programa nos desfechos secundários, foi identificado um efeito positivo na qualidade da experiência escolar percebida pelos estudantes no currículo do 7º ano. Entretanto, também foram evidenciados efeitos negativos no currículo do 7º ano, como aumento na intenção de uso futuro de cigarro e na intenção de aceitar oferta de maconha no futuro (Valente et al., 2021). Foi identificado, ainda, que os adolescentes que já se embriagavam antes do estudo, tiveram até três vezes mais chances de manter essa prática quando comparados aos que não participaram do programa (Sanchez et al., 2021).
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A avaliação do processo de implementação revelou aspectos importantes que podem influenciar a fidelidade de implementação e consequentemente a efetividade do programa, como adaptações feitas por instrutores durante a aplicação do programa e dificuldades em relação a infra-estrutura para a implementação (Gusmões et al., 2022).
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Os achados deste estudo apontam a necessidade da adaptação cultural do currículo do Keepin’ it Real (KIR) para a realidade brasileira, avaliação da fidelidade de implementação e das adaptações que têm sido realizadas em sala de aula, supervisão da implementação pelos coordenadores do programa e reavaliação do programa após as adaptações.
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Sanchez, Z. M., Valente, J. Y., Gusmões, J. D. P., Ferreira-Junior, V., Caetano, S. C., Cogo-Moreira, H., & Andreoni, S. (2021).Effectiveness of a school-based substance use prevention program taught by police officers in Brazil: Two cluster randomized controlled trials of the PROERD. International Journal of Drug Policy, 98, 103413. https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2021.103413
Valente, J.Y., Sanchez, Z.M. Mediating Factors of a Brazilian School-Based Drug Prevention Program. Int J Ment Health Addiction (2022). https://doi.org/10.1007/s11469-022-00805-1