Classe socioeconômica impacta de maneira diferente cada um dos comportamentos
Por Pollyanna Fausta Pimentel de Medeiros
As doenças crônicas não transmissíveis - DCNT são doenças relacionadas ao estilo de vida, as condições sociais, econômicas e culturais que podem afetar a condição da saúde da população. No Brasil, o consumo de álcool e tabaco são fatores de risco à saúde e são responsáveis por inúmeras mortes anuais.
Neste contexto, foi publicado recentemente um estudo no Brasil que teve por objetivo avaliar o possível efeito das desigualdades sociais no tabagismo e no consumo de álcool ao longo da última decada, considerando a escolaridade como um medida estimada de nível socioeconômico, de acordo com sexo e as regiões brasileiras.
Foram analisadas as informações dos adultos acima de 18 anos que participaram da Pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefónico (VIGITEL) do Ministério da Saúde coletadas entre os anos de 2006 até 2017.
Os resultados identificaram para os mais escolarizados uma prevalência maior relacionada ao consumo abusivo de álcool. Ao contrário, no que se refere ao tabagismo, a prevalência foi maior sempre entre os menos escolarizados. De acordo com o sexo, o estudo apontou estimativas de consumo maiores para os homens do que as mulheres, para os dois tipos de drogas estudadas.
Em relação a desigualdade, que foi interpretada como a diferença proporcional da prevalência do consumo entre os mais e os menos escolarizados em cada região, notou-se que ocorreu uma diminuição da desigualdade no consumo de tabaco para os homens nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-oeste e para as mulheres foi observada diminuição da desigualdade apenas nas regiões Nordeste e Centro-oeste. Sobre o álcool, os achados foram um pouco diferentes. Para os homens, os resultados apresentaram uma grande flutuação e apenas na Região Nordeste houve uma diminuição significativa na desigualdade no consumo abusivo de álcool. Para as mulheres, a desigualdade aumentou nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, ou seja, tendo mais mulheres de classes mais altas incrementado seu consumo nestas regiões. Observa-se que o consumo abusivo de álcool e o tabagismo apresentaram padrões opostos de desigualdades, considerando que o primeiro atinge as pessoas com maior nível socioeconômico e o segundo, aqueles com menor nível socioeconômico.
O resultado do estudo é crítico e reforça a necessidade da implementação de políticas públicas e estratégias para diminuição e mudanças das desigualdades sociais, assim como, os comportamentos relacionados ao consumo de álcool e tabaco, mas sempre levando em conta que a desigualdade afetou de maneira diferente cada um dos comportamentos. Conhecer e monitorar o padrão de consumo da população brasileira será fundamental para observar a melhoria da qualidade de vida da população.
Fonte: Wendt, Andrea et al. Análise temporal da desigualdade em escolaridade no tabagismo e consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 37, n. 4 [Acessado 3 Maio 2021] , e00050120. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-311X00050120>. ISSN 1678-4464. https://doi.org/10.1590/0102-311X00050120
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